Luciene Mendonça da Costa; Neusa Fernandes de Moura; Cristiane Marangoni; Caroline Eliza Mendes; Alexandre de Oliveira Teixeira.
RESUMO
Foi avaliada a atividade antioxidante pelo Sistema β-caroteno/Ácido Linoleico, ensaio do radical DPPH•
(2,2-difenil-1-picrilhidrazila), do extrato bruto (EB) e frações
hexânica (FH), clorofórmica (FC) e acetato de etila (FA) das pimentas
malagueta (C. frutescens), cambuci (C. baccatum var. pendulum), cumari (C. baccatum var praetermissum) e pimentão magali (C. annuum var. annuum).
As concentrações de capsaicinoides e de fenólicos totais
presentes nas pimentas também foram determinadas. Os resultados obtidos
demonstraram que as FC e FA das pimentas apresentaram maior
concentração de fenólicos totais e capsaicinoides, sendo que a
pimenta cumari foi a espécie com maior concentração destes compostos.
A melhor atividade antioxidante pelo Sistema β-caroteno/Ácido
Linoleico, foi obtida para o EB e FA da pimenta cambuci, seguida do
EB da pimenta malagueta. Pelo método DPPH a FC e FA apresentaram
menores valores de EC50, sendo a pimenta cumari e cambuci
as mais efetivas. Estes resultados demonstram que as pimentas cumari,
cambuci e malagueta podem ser utilizadas como agentes antioxidantes
naturais em alimentos.
1 Introdução
Naturalmente
os alimentos estão em constantes modificações, representadas por
alterações físicas, enzimáticas, microbiológicas e químicas, como as
reações de oxidação de lipídios e outros nutrientes susceptíveis à
ação do oxigênio e radicais livres, provocando por sua vez o
aparecimento de sabores e odores desagradáveis, modificações do valor
nutricional e a diminuição da vida de prateleira dos alimentos.
Para
retardar tais processos, a indústria faz uso de aditivos químicos
constantemente questionados pelos consumidores quanto aos seus
possíveis efeitos negativos à saúde. Neste contexto, há grande
interesse em encontrar nas plantas condimentares, princípios ativos
que possuam ação antioxidante e que possam contribuir para a
conservação de alimentos, sendo estes produzidos sem danos ao meio
ambiente e à saúde humana.
Plantas condimentares, tais como as pimentas e pimentões do gênero Capsicum,
que sempre foram usadas pelos índios e civilizações antigas para
tornar os alimentos mais agradáveis ao paladar, além de serem
utilizadas como conservantes em alimentos, são fontes de antioxidantes
naturais como a vitamina E, vitamina C e carotenoides (REIFSCHNEIDER,
2000). Estas pimentas também são ricas em capsaicinoides, compostos
fenólicos responsáveis pelo sabor pungente ou picante (CARVALHO;
BIACHETTI, 2004).
O Brasil é o segundo maior produtor de pimenta no mundo (RISTORI et al., 2002) e centro da diversidade do gênero Capsicum
(REIFSCHNEIDER, 2000). Essa hortaliça está difundida em todas as
regiões do Brasil, sendo que as principais áreas de cultivo são as
regiões Sudeste e Centro-Oeste. São comercializadas para o consumo in
natura, conservas caseiras e exportação do produto industrializado
(WAGNER, 2003).
O
presente trabalho teve como objetivo avaliar as atividades
antioxidante do extrato bruto e frações hexânica, clorofórmica e
acetato de etila, das pimentas malagueta (C. frutescens), cambuci (C. baccatum var. pendulum), pimenta cumari (C. baccatum var. praetermissum) e pimentão magali (C. annuum var. annuum).
2 Material e métodos
2.1 Material
Foram utilizados os frutos maduros da pimenta malagueta (C. frutescens) cambuci (C. baccatum var. pendulum), pimenta cumari (C. baccatum var. praetermissum) e pimentão magali (C. annuum var. annuum) coletados em Chapecó/SC.
Para
obtenção do extrato Bruto (EB), os frutos com sementes foram lavados
sob água corrente e picados em pedaços pequenos, seguido de
maceração em solução hidroalcoólica (Etanol 96ºGL). Posteriormente
o EB sofreu extração líquido-líquido pelo sistema de solventes com
grau de polaridade crescente, resultando em Fração Hexânico (FH),
Fração Clorofórmico (FC) e Fração Acetato de Etila (FA).
2.2 Métodos
Quantificação de capsaicinoides
Para determinar o teor de Capsaicinoides das pimentas Capsicum,
foi utilizada a metodologia descrita por Sadasivam e Manikkam
(1992), na qual a concentração é estimada pela medida
espectrofotométrica da cor azul formada pela redução do ácido
fosfomolibídico a ácido fosfomolibidênico.
Pesou-se
0,05 g dos extratos brutos e fracionados das pimentas estudadas, que
foram diluídas em 100 mL de água destilada, retirou-se 1 mL desta
solução que foi misturada em 5 mL de NaOH a 0,4% e 3 mL de ácido
fosfomolibídico a 3%. A mistura foi deixada em repouso ao abrigo de
luz por 1 hora. Após o período de reação, as absorbâncias das
amostras foram lidas através do espectrofotômetro de UV visível
(marca SCINCOSUV, modelo 2120), no comprimento de onda de 650 nm.
A
curva foi construída misturando-se a solução de Capsaicinoides a
100% (65% de Capsaicina, 20% de Dihidrocapsaicina e 15% de
Homodihidrocapsaicina) em diferentes concentrações em 5 mL de NaOH a
0,4%, 3 mL de ácido fosfomolibídico a 3%. Os resultados foram
expressos em mg de Capsaicinoides por 100 g de amostra.
Quantificação de fenólicos totais
Para quantificação dos fenólicos totais utilizou-se o reagente Folin-Denis descrito pelo método 9110 da AOAC (1980).
Preparou-se
inicialmente a solução supersaturada de carbonato de sódio e o
reagente Folin-Denis. A mistura foi fervida em refluxo durante duas
horas e após o resfriamento diluído em água 1:1, sendo acondicionada
em recipiente protegido da luz.
Para
preparação da curva de calibração do catecol, foram pipetadas
diferentes alíquotas da solução padrão de catecol em balões
volumétricos de 100 mL contendo 5 mL de reagente de Folin-Denis e 10
mL da solução de carbonato de sódio. As concentrações foram
homogeneizadas em Vortex e deixadas em repouso ao abrigo da luz por 30
minutos, para então serem realizadas as leituras em espectrofotômetro
de UV visível (marca SCINCOSUV, modelo 2120) a 760 nm.
Os
ensaios foram realizados diluindo-se 0,05 g de extratos e frações
das pimentas, em 100 mL de água destilada em balão volumétrico.
Transferiu-se 1 mL desta solução para outro balão de 100 mL contendo
5 mL de reagente Folin-Denis, 10 mL de solução supersaturada de
carbonato de sódio e avolumou-se com água. Foram mantidas em repouso e
ao abrigo da luz por 30 minutos. Preparou-se o branco para o controle
negativo.
A
quantidade de fenólicos totais foi obtida através da seguinte
equação: FT = leitura (mg/mL) × 100/peso da amostra (g). Onde:
Leitura é a concentração de catecol obtida na curva de calibração
de catecol referente à absorbância lida para a amostra.
Avaliação da atividade antioxidante pelo sistema β-caroteno/ácido linoleico
A atividade antioxidante foi determinada pelo sistema β-caroteno/ácido linoleico seguindo a metodologia descrita por Marco (1968).
Para a preparação da emulsão β-caroteno/ácido linoleico, adicionou-se 1 mg de β-caroteno
em 10 mL de clorofórmio, homogeneizou-se e transferiu-se 1 mL desta
solução para um balão de fundo redondo contendo 25 μL de ácido linoleico e 200 μL
de Tween 40. O clorofórmio da mistura foi evaporado em rota
evaporador a 40 °C, por 10 minutos. Após a evaporação, foi adicionada
a mistura 50 mL de água destilada aerada (saturada em oxigênio
por 30 minutos) e, em seguida, agitada para formar emulsão.
Foram retirados 5 mL da emulsão de β-caroteno/ácido
linoleico para a leitura do branco; para o controle positivo
misturaram-se 5 mL da emulsão com 0,2 mL de BHT e pipetaram-se 5 mL
da emulsão para adição de 1 mg de extrato bruto e frações hexânica,
clorofórmica e acetato de etila das quatro espécies de pimentas. Em
seguida, foram aquecidas em banho-maria a 50 °C por 15 minutos e
depois esfriadas por 30 minutos. A leitura foi realizada em
espectrofotômetro com comprimento de onda de 470 nm em intervalos de
15 minutos por 2 horas. A atividade foi determinada em porcentagem
(%) de Atividade Antioxidante (AA) conforme equação descrita abaixo:
AA(%) = 100 - (Absorbância inicial - Absorbância final) Amostra ×
100/Absorbância inicial - Absorbância final) Branco.
Avaliação da atividade antioxidante pelo método DPPH (2,2-difenil-1-picrilhidrazila)
O
método utilizado para a determinação da atividade antioxidante via
radical DPPH (2,2-difenil-1-picrilhidrazila) foi desenvolvido por
Brand-Willians, Cuvelier e Berset (1995) com modificações por Mensor
et al. (2001).
Inicialmente
foi preparada a solução estoque de DPPH, na qual 2 mg de DPPH foram
solubilizados em 50 mL de álcool metílico 96%. Para a solução das
amostras, pesaram-se 40 mg dos extratos e frações de cada pimenta
estudada, que foram misturadas em 10 mL de álcool metílico 96°GL.
Em
tubos contendo 1 mL da solução estoque de DPPH, adicionaram-se
álcool metílico 96% e a solução das amostras, obtendo-se as
concentrações de 5, 10, 25, 50, 125 e 250 μg.mL-1
de amostra. As amostras contidas nos tubos foram homogeneizadas e
deixadas em repouso ao abrigo de luz por 30 minutos. Um controle
negativo foi feito com 1,5 mL de metanol (96°GL) e 1 mL de solução
DPPH. Para o controle positivo pipetou-se 0,8 mL de BHT que foi
misturado a 1 mL da solução estoque de DPPH e a 0,7 mL de álcool
metílico 96%.
Após
30 minutos, a absorbância foi lida em 517 nm em espectrofotômetro de
UV visível (marca SCINCOSUV, modelo 2120) e foi convertida em
percentagem de atividade antioxidante (AA%) utilizando-se a seguinte
equação: AA (%) = 100 - (Absorbância da amostra) × 100/(Absorbância
controle). Os dados do método DPPH também podem ser interpretados
pelo CE50, ou seja, a concentração da amostra em que 50% da atividade antioxidante (antirradical) é observada.
Análise estatística
As análises foram realizadas em duplicata com três repetições. Os dados foram submetidos à análise de variância (teste F) e as médias comparadas pelo Teste de Tukey (5%) e Dunnett (5%) através do programa Estatistic 6.0.
3 Resultados e discussão
3.1 Quantificação de capsaicinoides
As concentrações de capsaicinoides encontrados para o extrato bruto e fracionado das espécies C. frutescens (malagueta), C. annuum var. annuum (pimentão magali), C. baccatun var. pendulum (cambuci), C. baccatun var. praetermissum (cumari) estão apresentadas na Tabela 1.
Os
resultados obtidos para a pimenta malagueta demonstram que a fração
clorofórmica apresenta maior concentração (p < 0,05) de
capsaicinoides seguida da FA, enquanto que o extrato bruto e fração
hexânica foi o de menor concentração (p < 0,05). Este resultado
foi observado também para a pimenta cumari.
O
pimentão magali foi a espécie que apresentou menor concentração
de capsaicinoides, com o extrato e suas frações não apresentaram
diferença entre si.
Entre
todos os extratos e frações analisados, a fração clorofórmica da
pimenta cumari apresentou maior concentração de capsaicinoides.
Pimenta esta extremamente pungente.
As
frações clorofórmica e acetato de etila da pimenta cambuci
apresentaram maior concentração de capsaicinoides em relação ao EB
e FH, não deferindo entre si.
Observou-se
que as maiores concentrações foram encontradas nas frações
clorofórmica e acetato de etila e menores no extrato bruto e fração
hexânica. Tais resultados podem ser explicados pelo fato de solventes
mais polares (BERTOLDI, 2006) extraírem normalmente maior quantidade
de fenólicos, e os capsaicinoides fazem parte desta classe de
compostos.
Das dez variedades de extratos brutos de pimentas C. annuum pesquisadas por Deepa et al. (2007), foram encontradas concentrações de capsaicina variando de 776-1440 μg.100 g-1 para pimentas imaturas (verdes) e 277-1529 μg.100 g-1 para pimentas maduras (vermelhas). Resultados inferiores aos determinados no presente trabalho.
Materska e Perucka (2005) obtiveram para extrato metanólico de C. annuum L. 0,442 mg.g-1 de capsaicina e 0,317 mg.g-1 de dihidrocapsaicina para frutos imaturos, para frutos maduros 0,530 mg.g-1 de capsaicina e 0,350 mg.g-1 de dihidrocapsaicina.
Perucka e Oleszek (2000) determinaram concentrações de capsaicinoides em extrato metanólico de C. annuum L. por meio de espectrofotômetro e CLAE (Cromatografia Líquida de Alta Performance), 0,706 e 0,715 mg.g-1,
respectivamente. Os autores ainda constataram que a determinação
de capsaicinoides por espectrofotometria foi comparável a do CLAE. Já
Topuz e Ozdemir (2007) encontraram para cultivares de C. annuum a concentração de capsaicinoides que variou de 471,3 a 688,1 mg/kg na base seca.
Pino
et al. (2007) comprovaram a concentração de capsaicinoides com a cor
(vermelho, alaranjados e marrons) de 10 pimentas C. chinense cultivados em Cuba. Verificaram que o índice de capsaicinoides das pimentas variou de 41,8 a 65,9 mg.100 g-1
da fruta seca. Especificamente os cultivares alaranjados foram os
mais pungentes com concentração de capsaicinoides de 55 mg.100 g-1 da fruta seca enquanto os vermelhos 45 mg.100 g-1 da fruta seca.
3.2 Quantificação de fenólicos totais
A
concentração de fenólicos totais, expressos em equivalente de
catecol por 100 g de amostra encontrados para os extratos brutos e
frações das espécies C. frutescens (malagueta), C. annuum var. annuum (pimentão magali), C. baccatun var. pendulum (cambuci), C.baccatun var. praetermissum (cumari), está apresentada na Tabela 2.
A
pimenta malagueta apresentou maior concentração de fenólicos totais
na fração clorofórmica, seguida do acetato de etila. As menores
concentrações encontram-se no extrato bruto e fração hexânica.
Ao
analisar os resultados das pimentas cambuci e cumari, constata-se
que: as maiores concentrações de fenólicos totais foram extraídas
pelos solventes clorofórmio e acetato de etila, não havendo diferença
entre eles; para os extratos brutos e frações hexânicas, as menores
concentrações, não havendo diferença estatística entre os resultados.
O
pimentão apresenta concentrações inferiores de compostos fenólicos
que as demais espécies, porém seu comportamento foi diferenciado,
sendo que todas as frações e extratos não apresentaram diferença
significativa entre si.
Resultados semelhantes aos obtidos pelo presente trabalho para o EB do C. annuum var. annuum foram apresentados por Hassimoto, Genovese e Lajolo (2005) para extratos metanólicos de C. annuum var. annuum, utilizando reagente Folin Ciocalteu, com 119 mg.100 g-1 para pimentas verdes e 131 mg.100 g-1 para vermelhas.
Deepa et al. (2007) encontraram para extrato etanólico de dez espécies de C. annuum L. concentração de fenólicos totais para pimentas verdes variando de 186 a 1122 mg.100 g-1 e para pimentas vermelhas de 323 a 852 mg/kg.
Howard et al. (2000), utilizando o reagente Folin Ciocalteu para extratos metanólicos de pimentas Capsicum, encontraram de 2846 a 5707 mg/kg de fenólicos totais em frutos maduros de quatro espécies de C. annuum e imaturos de 2565 a 3548 mg/kg; para os frutos imaturos do C. frutescens 5244 mg/kg e maduros 5136 mg/kg; e para a espécie C. chinense
frutos maduros 4042 mg/kg de fenólicos totais. Demonstrando a
correlação positiva entre o aumento da maturidade com a concentração
de fenólicos para a maioria das pimentas testadas. O contrário foi
relatado por Marin et al. (2004): houve decréscimo do conteúdo de
fenólicos com o estágio de maturação do verde para vermelho.
3.3 Avaliação da atividade antioxidante pelo sistema β-caroteno ácido linoleico
O sistema β-caroteno/ácido linoleico baseia-se na descoloração do β-caroteno
induzida pelos produtos da oxidação do ácido linoleico. A
utilização de antioxidantes retarda a queda da absorbância do β-caroteno, protegendo os substratos lipídicos da oxidação (SOKMEN et al., 2004).
Os resultados da atividade antioxidante (%) pelo Sistema β-caroteno Ácido Linoleico, dos extratos bruto e fracionado da pimenta malagueta (C.frutescens), pimentão magali (C. annuum var. annuum), pimenta cambuci (C.baccatum var. pendulum) e pimenta cumari (C.Baccatum var. praetermissum), encontram-se na Tabela 3.
Observou-se que o EB da malagueta (C. frutescens)
apresentou a maior (p < 0,05) atividade antioxidante e a FA a
menor (p < 0,05), ficando a FC e FH com valores intermediários.
Comparando-se com o antioxidante sintético (BHT), o EB, FH e FC da
malagueta obtiveram a mesma ação antioxidante, e a FA com atividade
inferior (p < 0,05).
Em
virtude de a pimenta malagueta ter apresentado maior concentração de
fenólicos nas frações clorofórmica e acetato de etila e menores na
hexânica e no extrato bruto, esperava-se que as frações com maiores
concentrações de fenólicos apresentassem maior atividade
antioxidante. Porém, observou-se o contrário, principalmente com a
fração acetato que apresentou menor atividade antioxidante. Este
resultado possivelmente deveu-se à presença da vitamina C extraída
nesta fração, que agiu como pró-oxidante, uma vez que, segundo Markus
et al. (1999) e Reifschneider (2000), este gênero se apresenta como
boa fonte deste nutriente. Conforme Hassimoto, Genovese e Lajolo
(2005), o ácido ascórbico pode atuar como pró-oxidante, pois ao doar
os dois hidrogênios redutores, fica susceptível de receber elétrons,
devido ao radical ascorbila formado, que é agente oxidante.
A
baixa atividade antioxidante do extrato bruto e fração hexânica da
pimenta malagueta deveu-se principalmente à ação sinergística
entre os compostos presentes (EB) e a presença de capsantinas e
criptoxantina (FH), que são carotenoides com ação antioxidante.
Segundo Young e Lowe (2001), os carotenoides apresentam propriedades
antioxidantes devido principalmente ao sistema de duplas ligações
conjugadas, fazendo com que sejam capazes de capturar os radicais
livres.
Howard et al. (2000) obtiveram para o extrato metanólico da pimenta tabasco (C. frutescens), fruto maduro, 91,85% de atividade inibitória da oxidação pelo sistema β-caroteno/Ácido
Linoleico, e correlacionaram o efeito antioxidante com as
concentrações crescentes de carotenoides nos frutos maduros: 414 μg.100 g-1 de β-criptoxantina, 1252 μg.100 g-1 de α-caroteno, 1187 μg.100 g-1 de β-caroteno, 1443 μg.100 g-1 de capsantina e 1958 μg.100 g-1 de zeaxantina.
Para o pimentão magali (C. annuum),
a maior atividade antioxidante foi obtida pela FH, sendo os menores
valores atribuídos ao EB, FC e FA, que não diferenciaram
estatisticamente entre si. O extrato bruto e todas as frações
apresentaram valores inferiores ao BHT.
Observou-se que o EB e FA da pimenta cambuci (C. baccatum var. pendulum) apresentaram maior ação antioxidante e igual ao BHT, ficando a FH e FC com menor atividade e inferiores ao BHT.
A
ação antioxidante do extrato em acetato de etila da pimenta cambuci
justifica-se pela presença significativa de capsaicinoides e
fenólicos totais encontrados nesta fração. Apesar de a fração
clorofórmica ter apresentado a mesma concentração de capsaicinoides e
fenólicos totais que a fração acetato de etila, sua ação
antioxidante possivelmente foi afetada por outros compostos que
interagiram de forma negativa neste sistema.
Para a pimenta cumari (C. baccatun var. praetermissum),
as frações acetato de etila e clorofórmica obtiveram os melhores
resultados com valores iguais ao BHT, ficando a FH com a menor ação
antioxidante e o EB com a atividade intermediária, ambos com valores
inferiores ao BHT.
Os
resultados apresentados pelas frações acetato de etila e
clorofórmica da pimenta cumari podem ser explicados pela alta
concentração de capsaicinoides e fenólicos totais encontrados nestas
frações. Os valores do EB e FH podem ser explicados pela pouca
quantidade de compostos como os carotenoides, além das baixas
concentrações de capsaicinoides e fenólicos totais detectados neste
extrato e fração.
A
pimenta cambuci apresentou a maior (p < 0,05) ação antioxidante,
seguida da pimenta malagueta e cumari, sendo a menor (p < 0,05)
atividade obtida pelo pimentão.
Observou-se
que a ação antioxidante do EB foi maior que a fração acetato de
etila, com menor ação nas frações bichano e clorofórmio. A melhor
atividade foi obtida pela FA e EB da pimenta cambuci, enquanto que o
EB e todas as frações do pimentão atingiram a menor ação
antioxidante. Isso porque os resultados dependem, segundo Dorman et
al. (2003), da natureza e estrutura química dos compostos fenólicos
presentes no extrato. Também os compostos que possuem ação
antioxidante podem variar em função da espécie de pimenta, das suas
condições de cultivo e da forma de extração, afetando diretamente a
atividade inibitória do extrato (DEANS; RITCHIE, 1987).
Utilizando-se
como parâmetro a classificação de Hassimotto, Genovese e Lajolo
(2005), em que valores de inibição > 70% apresentaram boa ação,
intermediária para valores de 40 a 70% de inibição e baixa para <
40% de inibição, observou-se que: os extratos e frações das pimentas
malagueta, cumari e cambuci apresentaram boa ação antioxidante, sendo
apenas o pimentão com valores menores classificado como de baixa
atividade antioxidante.
Hassimotto, Genovese e Lajolo (2005), ao avaliar a atividade antioxidante C. annuum var. annuum na concentração de 50 μM de extrato metanólico pelo Sistema β-caroteno/Ácido
Linoleico, também obtiveram baixa (<40% inibição) ação
antioxidante para pimenta doce verde, 31,4% de inibição da oxidação,
enquanto que para pimenta doce vermelha, uma atividade de 49,2% de
inibição, considerada atividade intermediária (40-70% de inibição).
3.4 Avaliação da atividade antioxidante pelo método DPPH (2,2-difenil-1-picrilhidrazila)
O
método DPPH consiste na redução do radical DPPH•
(2,2-difenil-1-piricrilhidrazila), de coloração púrpura, que, ao
receber um elétron ou um radical hidrogênio, muda sua coloração de
violeta para amarelo (difenil-piricril-hidrazina), ficando estável e
com o desaparecimento da absorção que pode ser avaliada pelo
decréscimo da absorbância (ROGINSKY; LISSI, 2005).
Encontram-se na Tabela 4 os resultados da atividade antioxidante (%) pelo método DPPH, dos extratos bruto e fracionado da pimenta malagueta (C. frutescens), pimentão magali (C. annuum var. annuum), pimenta cambuci (C.baccatum var pendulum.) e pimenta cumari (C.Baccatum var. praetermissum).
Observa-se que as FA e FC da pimenta malagueta (C. frutescens)
apresentaram maior (p < 0,05) atividade antioxidante em todas as
concentrações testadas, com desempenho igual a superior ao BHT. Tais
resultados podem ser explicados pela considerável concentração de
fenólicos totais e capsaicinoides encontrados nestas frações, os
quais possuem grande capacidade de doar elétrons ao radical DPPH e
estabilizá-lo. Enquanto que o EB obteve menor ação do que o BHT,
provavelmente devido à interação negativa de compostos variados
extraídos pelo etanol, ou pela presença de substâncias com menor
poder redutor.
A atividade antioxidante do pimentão magali (C. annuum var. annuum) em média apresentou ação inferior ao BHT, ficando a fração clorofórmica apenas nas concentrações de 50 e 250 μg.mL-1
com ação igual ao antioxidante sintético, e a fração acetato de
etila com desempenho superior ao BHT apenas nas concentrações de 125 e
250 μg.mL-1.
Isto demonstra que somente em altas concentrações as frações
clorofórmica e acetato de etila foram eficientes doadores de elétrons
para o radical DPPH. Enquanto que o extrato bruto obteve menor ação
antioxidante mesmo apresentando concentrações de fenólicos e
capsaicinoides iguais aos extratos brutos das outras pimentas estudadas.
Materska e Perucka (2005), ao avaliarem a atividade antioxidante da capsaicina e dihidrocapsaicina extraídas do C. annuum
L., verificaram pelo método DPPH que a ação antioxidante da
capsaicina foi maior que a da dihidrocapsaicina, mostrando que a
dupla ligação da cadeia lipídica da capsaicina influenciou na ação
antioxidante. Acrescentaram que a ação dos capsaicinoides pode ter
sido influenciada pela presença dos grupos metoxi e OH na posição
orto do anel aromático.
Observa-se que a fração acetato de etila da pimenta cambuci (C. baccatum var baccatum)
ofereceu maior contribuição para atividade antioxidante desta
espécie, com capacidade doadora de elétron superior ao antioxidante
sintético BHT. Enquanto que a fração clorofórmica obteve valores
variando entre ação antioxidante inferior a igual ao BHT, o extrato
bruto apresentou atividade inferior ao BHT.
A
concentração de fenólicos totais encontrada na fração acetato de
etila da pimenta cambuci justifica a ação antioxidante superior ao
BHT, já que apresentou concentração baixa de capsaicinoides. A
fração clorofórmica apesar de ter apresentado concentração de
fenólicos totais igual ao extrato de acetato de etila, sua ação
antioxidante pode ter sido afetada por outros compostos presentes nesta
fração. As concentrações inferiores de capsaicinoides e fenólicos
totais no extrato bruto explicam sua menor atividade antioxidante quando
comparadas com as frações.
Os compostos contidos nas frações clorofórmica e acetato de etila da pimenta cumari (C. baccatum var. praetermissum)
atingiram ação antioxidante superior ao BHT, o que provavelmente
deveu-se à elevada concentração de capsaicinoides e fenólicos totais
detectada nestas frações. Já o extrato bruto obteve uma ação
antioxidante igual ao BHT apenas nas concentrações de 125 e 250 μg.mL-1.
A
atividade antioxidante das frações hexânicas não foi determinada,
pois os resultados se apresentavam abaixo de zero, impossibilitando o
cálculo da atividade e o cálculo do CE50 através de
regressão linear, podendo ser explicado devido à baixa concentração
de fenólicos totais encontrada para esta fração. Segundo
Wangensteen, Samuelsen e Malterrud (2004), a falta de capacidade doadora
de hidrogênio dos extratos lipofílicos dificulta a análise de
seus resultados pela metodologia do DPPH.
Observou-se na Figura 1 que os valores de CE50
foram menores para as frações acetato de etila e clorofórmica e
semelhantes ao BHT, porém maiores para os extratos brutos. O que é
justificado pela maior concentração de capsaicinoides e fenólicos
totais encontrados nestas frações polares.
A pimenta cumari foi a pimenta que apresentou os menores (p < 0,05) valores de CE50
quando comparados aos das outras pimentas e BHT. Para o pimentão, o
extrato bruto e suas frações atingiram os maiores valores de CE50. A pimenta malagueta apresentou altos valores de CE50 para o extrato bruto e suas frações com resultados semelhantes aos da cambuci.
Os
extratos da pimenta cumari apresentaram a maior (p < 0,05) ação
doadora de elétrons ao radical DPPH, seguida da pimenta cambuci,
malagueta e pimentão. Os extratos clorofórmico e acetato de etila
obtiveram a melhor atividade antioxidante, quando comparados ao BHT e
ao extrato bruto. Demonstrando correlação positiva entre ação
antioxidante e as concentrações de capsaicinoides e fenólicos totais
encontrados nas frações polares (acetato de etila e clorofórmico).
Observou-se que o FA apresentou resultado contrário ao que foi obtido com o Sistema β-
caroteno/Ácido Linoleico para pimenta malagueta e pimentão, isto
porque o método DPPH, segundo Duarte-Almeida et al. (2006), avalia
apenas o poder redutor do antioxidante, que ao doar elétron se oxida
e, por isso, não detecta substâncias pró-oxidantes como ácido
ascórbico. Enquanto que o Sistema β-caroteno/Ácido Linoleico avalia a capacidade que o antioxidante possui em proteger o ácido Linoleico e o β-caroteno da oxidação, identificando substâncias pró-oxidantes como a vitamina C.
Constatou-se
que a metodologia do radical DPPH detectou muito mais a ação
antioxidante dos extratos polares, que extraem os compostos
fenólicos, do que o extrato bruto. Conforme Atoui et al. (2005), a
atividade antioxidante dos fenólicos é devida principalmente às suas
propriedades redutoras.
4 Conclusões
O C. baccatun var. praetermissum (cumari), o C. baccatun var. pendulum (cambuci) e o C. frutescens (malagueta) podem ser utilizados como agentes antioxidantes naturais em alimentos. Já o C. annuum var. annuum (pimentão magali) apresentou bom desempenho apenas em concentrações elevadas das frações polares pelo método DPPH.
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